Às vésperas do plantio de soja, tudo indica que o clima não vai ajudar neste início de safra, mais uma vez. A boa notícia é que as adversidades devem ficar restritas ao início da temporada, ao contrário do ano passado, quando a estiagem e o calor excessivo durante o desenvolvimento da soja derrubaram a produtividade em algumas regiões.
Segundo meteorologistas consultados por The AgriBiz, o agricultor deve descartar o plantio em setembro, quando termina o vazio sanitário em grandes estados produtores, como Mato Grosso, Paraná e Mato Grosso do Sul. Neste mês, o tempo será mais seco do que o normal e as temperaturas ficarão acima da média, o que deve continuar favorecendo, inclusive, a ocorrência de queimadas.
Na última semana de setembro, por volta do dia 25, podem ocorrer chuvas no Sudeste, Centro-Oeste e no Matopiba. "Mas o produtor deve ter muita atenção. Depois dessas chuvas, os modelos voltam a sinalizar um novo período seco", diz Marco Antonio dos Santos, agrometeorologista da Rural Clima. "As chuvas vão regularizar mais tarde este ano."
As precipitações só se tornarão regulares em meados de outubro. "As chuvas aumentarão gradualmente a partir de outubro, especialmente no Centro-Sul", diz Nadiara Pereira, meteorologista da Climatempo. Em outras regiões, as fazendas podem receber boas chuvas apenas na segunda quinzena de outubro. Esse é o caso do norte e leste do Mato Grosso, incluindo a região do Vale do Araguaia, norte de Goiás e de Minas Gerais.
A partir daí, a chuva deve ser frequente, favorecendo o desenvolvimento das culturas de verão. "Dificilmente teremos estiagem como vimos no ano passado", afirma Santos.
Para colher duas ou até três safras por ano, os agricultores brasileiros têm tentado plantar a oleaginosa o mais cedo possível. No entanto, setembro tem sido mais seco nos últimos anos, dificultando o plantio das variedades precoces.
Embora esse comportamento possa ser atribuído às mudanças climáticas, o atraso no retorno das chuvas em 2024 está relacionado à La Niña. Mesmo com o retardamento no início do fenômeno climático, o resfriamento das temperaturas no Oceano Pacífico contribui para o atraso no início da estação chuvosa, segundo Santos.
Como a La Niña deve se estabelecer no último trimestre de 2024, seus efeitos devem ser mais pronunciados durante o verão brasileiro, com uma maior probabilidade de umidade excessiva durante as etapas finais do desenvolvimento e colheita da safra, explica a meteorologista da Climatempo. Ela ressalta, no entanto, que será preciso monitorar como a La Niña vai se desenvolver para ter mais clareza sobre o que vai acontecer no final da safra.
"No ano passado, o calor era nossa maior preocupação. Nesta temporada, estamos preocupados com a possibilidade de chuvas excessivas na parte final do ciclo", disse Santos.
Para o meteorologista, a demora na regularização das chuvas pode, inclusive, levar grandes grupos agrícolas a desistir da soja e privilegiar o plantio do algodão na safra de verão, já que a janela para a instalação da pluma na safrinha vai ficar muito apertada. "Pode haver migração do algodão safrinha para o algodão safra", diz Santos.
O atraso no plantio da soja também vai retardar a semeadura do milho safrinha, aumentando os riscos de perdas na produção do cereal. "Será necessário que ocorram chuvas em abril e em maio", afirma o fundador da Rural Clima.
A cada ano, aumenta entre os agricultores a percepção de que setembro — o mês que marca o início da primavera — tem sido mais seco do que o ano anterior. Os meteorologistas concordam. Embora o volume de chuvas ainda se mantenha relativamente estável durante o ano, elas se tornaram mais concentradas em um espaço menor de tempo.
"Tem chovido menos do que o normal nos meses de setembro há cerca de 20 anos de forma consecutiva", afirma Celso Oliveira, meteorologista da Safria Energia e colunista de The AgriBiz.
Santos, da Rural Clima, observa que a precipitação tem sido mais concentrada. "O período chuvoso está se tornando mais curto e concentrado em apenas 60 dias no verão."
Fonte: The Agri Biz